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Manguezal: ecossistema de transição

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Mensagem por Admin Qui Jun 29, 2017 11:35 pm

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Fonte: Professor Marciano Dantas

Estuários e manguezais são ecossistemas que ocorrem em áreas abrigadas, próximas à linha de costa, em áreas de transição entre os rios e os mares. Caracteristicamente apresentam um gradiente de salinidade entre a água doce dos rios e a água salgada dos mares, o qual varia dependendo das condições de marés enchentes ou vazantes.
Estuários são baías ou áreas abrigadas onde os rios deságuam no mar, misturando sua água doce com a água salgada. Os rios transportam grandes quantidades de nutrientes e matéria orgânica para os estuários, favorecendo o desenvolvimento de organismos fotossintetizantes, os quais são a base das cadeias alimentares. O transporte de sedimentos finos pelos rios favorecem outra característica comum nos estuários. Com o acúmulo dos sedimentos, há a formação de áreas rasas e de fundos lamosos ricos em matéria orgânica, sendo um local de refúgio para peixes pequenos e muitos juvenis de espécies de grande porte.
Estuários são áreas de grande importância ecológica e econômica por serem áreas de alimentação e/ou de reprodução de muitas espécies, tendo um papel importante nas teias alimentares marinhas. Por exemplo, são fundamentais para a reprodução do camarão-rosa (Farfantepenaeus brasiliensis) e outras espécies.
O camarão-rosa se reproduz em mar aberto (em geral 40-80m de profundidade) e suas pós-larvas penetram nos estuários onde ocorre o crescimento. Permanecem nos estuários e zona costeira adjacente enquanto juvenis e migram na fase pré-adulta para as zonas de reprodução no mar. Essa conectividade entre ambientes diferentes é comum no mar.
Manguezais são ambientes especiais presentes na costa ou, mais comumente, em estuários. Ocorrem especialmente na zona tropical ou em áreas subtropicais. Ocorrem no Brasil desde a foz do Oiapoque, no Amapá, até Laguna, em Santa Catarina, estando os maiores localizados entre o Oiapoque e o Golfão Maranhense. O Brasil possui a segunda maior área de manguezais do mundo (cerca de 12.500 km2), representando 0,16% da área total do país.
Manguezais são ambientes, enquanto mangues são árvores. As principais árvores que formam as florestas de manguezais possuem capacidade de filtrar o sal, daí estarem adaptadas para esse ambiente com salinidade maior que a dos rios. Os manguezais protegem a linha da costa e a margem dos rios. Suas árvores e arbustos bloqueiam o vento e prendem sedimento entre as raízes, mantendo um declive suave que absorve a energia das correntes de maré. Seu sedimento (muitas vezes na forma de lama) é rico em nutrientes originários de folhas e galhos em decomposição.
Os manguezais abrigam uma grande diversidade de vida, incluindo muitos de interesse para a alimentação humana, como o caranguejo-uçá (Ucides cordatus), o guaiamum (Cardisoma guanhumi), o vôngole ou berbigão (Anomalocardia brasiliana), a ostra (Crassostrea rhizophorae), tainhas (Mugil spp.), robalos (Centropomus spp.) e outros.
Os manguezais são também relevantes para os peixes-boi-marinhos (Trichechus manatus), que buscam águas calmas para se reproduzir, podem comer folhas de mangue e sobem o rio para beber água doce. Apesar disso, poucas espécies de árvores formam esses ambientes, especialmente o
mangue-vermelho ou verdadeiro (Rhizophora mangle) e o manguebranco (Laguncularia racemosa).
Possuem grande conectividade com os outros ambientes, sendo importantes berçários para muitos peixes, cujos adultos estão no mar. Assim, a destruição de estuários ou manguezais pode afetar pescarias realizadas longe do mar.
Fontes:
Projeto Albatroz - Manual de Ecossistemas Marinhos e Costeiros para Educadores

Cabe ressaltar que o solo enlameado, rico em matéria orgânica é pobre em oxigênio. Porque as bactérias que decompõe a matéria orgânica a retiram! Diante da necessidade das bactérias decompositoras, não há muito oxigênio. Por isso, se diz que o manguezal é rico em matéria orgânica e pobre em oxigênio. Um fato curioso é a adaptação das plantas diante desse problema, elas desenvolveram algo chamado raízes aéreas. Raízes que crescem para cima! Tais raízes que saltam do solo, ampliam a capacidade de obter oxigênio.

Veja o que Arthur Soffiati nos diz sobre as raízes aéreas (pneumatóforos):

Arthur Soffiati escreveu:
"Naturalmente, o manguezal é um ambiente estressado que desenvolveu mecanismos de adaptação de modo a reduzir as tensões. Para lidar com o excesso de umidade e a escassez de oxigênio, as espécies de mangue criaram os pneumatóforos e as lenticelas, ou seja, raízes que, em vez de se dirigirem para baixo, saem do substrato lamoso como se fossem tubos de respiração de um mergulhador. O pneumatóforo corresponde ao tubo e a lenticela ao furo por onde entra o ar. Por sua vez, o mangue vermelho tem um caule ramificado, assemelhando-se a uma aranha. As lenticelas ficam nas ramificações."


ATUALIDADES
Cultivo de camarões em manguezais ameaça fauna e flora
Na Bahia, a carcinicultura tem causado sérios problemas ambientais em áreas de mangue, além de impactos sociais às populações que vivem em seu entorno
O rico ecossistema do manguezal se configura como um berçário para inúmeras espécies da fauna e da flora aquática. Os peixes, moluscos e crustáceos, que habitam e se reproduzem neste ambiente, são importantes fonte de renda e de alimento para as famílias que vivem na região costeira. Por estas razões, desde 1965, os manguezais foram reconhecidos pelo governo Brasileiro como Áreas de Proteção Permanente (APPs).

A resolução nº 369 do Conselho Ambiental do Meio Ambiente (Conama) estabelece que as áreas de mangue não devam sofrer qualquer tipo de intervenção em sua vegetação, a não ser em caso de utilidade pública. Porém, isto não é o que observamos no litoral brasileiro. Com cerca de 20 mil Km², a faixa de mangue brasileira, maior do mundo, tem sido devastada, muitas vezes com o aval dos governos municipais e estaduais.

Na região nordeste, particularmente na Bahia, os manguezais têm sido ameaçados pela construção de tanques para a criação de camarões em suas dependências. A carcinicultura, como é conhecida este tipo de criação, tem causado sérios problemas ambientais nas áreas de mangue, além de gerar infortúnios às populações que vivem nas proximidades dos manguezais e que deles tiram os recursos necessários para a sobrevivência.

O impacto social causado pela implantação da carcinicultura nos manguezais é o pior problema que este tipo de cultivo pode gerar. Para Miguel Accioly, professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), “Uma criação deste tamanho ou menor (aponta para uma fotografia tirada por satélite de um imenso tanque que corta um manguezal), como aquelas que eu te mostrei, dificultam o acesso do pescador ao caminho que ele tinha naturalmente para ir ao mangue e aos locais de pesca. Por exemplo, toda essa região era, principalmente, um local de pesca de sururu. Tem um povoadozinho, aqui, que vive há séculos e o principal produto lá, é o sururu. Resultado, depois da criação disso aqui (tanque) o banco de sururu acabou e o pessoal agora está desempregado, porque eles não se empregaram aqui (no criadouro), simplesmente, eles deixaram de pescar o sururu.”

Além desse problema, os pescadores sofrem com a ameaça dos vigilantes que trabalham para as empresas de cultivo de camarões. Os locais para pesca dos moradores se restringem ao entorno dos tanques, logo, são vigiados e muitas vezes confundidos com ladrões. Segundo o professor, um pescador já foi morto em Valença.

Manguezal X Carcinicultura – O manguezal produz muito, mas pouco é consumido pelos seres que vivem nele. Toda a produção excedente alimenta o estuário, que funciona basicamente como um berçário tanto para os seres que vivem no mar quanto para os que vivem nos rios. É um lugar abrigado que não possui fortes ondas ou correnteza e onde há poucos predadores, por isso os animais vão para se reproduzir. Com a ocupação dos mangues, o fornecimento de alimento para o estuário é reduzido, e algumas espécies podem ser extintas da região.

Desta forma, o cultivo de camarões nas áreas de mangue não teria motivo para existir, porém a carcinicultura é uma área muito rentável da aquicultura, segundo dados da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), divulgados em 2002, esta atividade moveu sozinha cerca de US$ 6,1 bilhões no mundo. No Brasil, particularmente no nordeste, não é diferente, a produção de camarões em viveiros, seja em tanques no mangue ou em terra firme, tem crescido a cada ano. E, esta deve ser a justificativa para a criação dos crustáceos em áreas de APP: o lucro, não das pessoas que vivem as cercanias dos manguezais, mas das indústrias que se instalam com licença nestas áreas, infligindo o que preconiza a resolução nº 369 do Conama.

É necessário ressaltar, ainda, que a produção dentro dos tanques é menor, porém concentrada, já a produção no manguezal é maior, no entanto dispersa, dando a impressão de que não há ganhos ou benefícios, mas as marisqueiras e os pescadores da região vivem dos peixes e moluscos do mangue. Segundo Accioly, “com a construção do tanque no mangue, você tira 1000 desempregados que vivem nesta área e bota 20 carteiras assinadas. Para o governo isto está ótimo, a estatística melhorou muito, passou a ter 20 carteiras assinadas quando se tinha 1000 desempregados. Só que na verdade estes 1000 que estão aqui, eles perderam a fonte de alimentação, vão ter que ir para outro lugar, mas não tem outro lugar, e eles não eram desempregados, eles produziam alimentos, eles não passavam fome…”

Fiscalização, irregularidades e danos ao ambiente

O processo de fiscalização das fazendas de camarões, instaladas nos manguezais, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) consiste em esclarecer e apurar denúncias e ocorrências, aplicar sanções de multa e embargo, mantê-las e fazer o relato ao Ministério Público. Por sua vez, o Ministério Público faz a denúncia à justiça, que conta com informações técnicas atualizadas, fornecidas pelo Ibama sobre as irregularidades encontradas no cultivo, e, caso o sujeito acusado seja condenado, responderá pelo passivo ambiental, assumindo sua responsabilidade nas áreas administrativa, civil e penal. Culpado, o degradador terá, ainda, que fazer a reparação do dano causado, elaborando um plano de recuperação ambiental que terá sua eficiência julgada pelo Ibama.

O monitoramento dos fiscais dos órgãos ambientais deveria ser contínuo, porém isso nem sempre ocorre, pois o contingente de fiscais não é suficiente para cobrir o litoral baiano. Desta forma, algumas criações, mesmo embargadas, permanecem funcionando irregularmente.

Uma questão importante surge quando nos deparamos com uma APP sendo degradada para promover benefícios particulares: Como fiscalizar algo que em sua essência já é irregular, como os criadouros de camarões nos manguezais? Segundo o agente ambiental federal e instrutor de ações fiscalizatórias do Ibama, Alberto Gonçalves, “quando um órgão seja federal, estadual ou municipal licencia estes cultivos obviamente deve conhecer os padrões, os parâmetros de tolerância dos impactos para aquele ambiente. Então, o licenciamento traz como condicionantes todas as providências para que aquilo não afete o ambiente mais do que o necessário… Como o mangue é APP, não poderia instalar os tanques, por isso se luta para desinstalá-los ou para que os já historicamente instalados se adéquem as normas”.

O Conama e demais órgãos ambientais, a partir de estudos, elaboram os padrões técnicos que os cacinicultores devem seguir. E, estes devem elaborar e fornecer periodicamente relatórios sobre a qualidade ambiental de seus empreendimentos, documentos que deverão ser verificados pelos órgãos ambientais.

Os criadouros licenciados de camarões nos mangues são antigos, já os irregulares são mais recentes. Isso porque, o mangue não é tecnicamente adequado para o cultivo de camarão em tanques, as condições de drenagem para limpeza e controle sanitário, por exemplo, não podem ser feitas de forma adequada. Quando se trata dos viveiros instalados em terra firme, as condições são completamente diferentes, o tanque pode ser totalmente drenado, seco ao sol e ter fundo queimado com cal, sendo, desta forma, esterilizado e desinfetado. Há um controle sanitário que não pode ser feito no mangue.  No ambiente aquático do manguezal, não há como secar totalmente o viveiro, o fundo é constituído de lama, acumulando resíduos tóxicos, bactérias e microrganismos no fundo do viveiro. Desta forma, os viveiros construídos em manguezais têm durabilidade máxima de 10 anos, pois os resíduos saturam e matam o mangue, tornando-o inviável para o cultivo. Por isso, pela inviabilidade técnica, os criadouros mais recentes em manguezais são ilegais ou pertencem a empresários predadores, que pensam única e exclusivamente no lucro momentâneo, pulando de mangue em mangue, deixando um terrível rastro de danos ambientais.

A criação irregular de camarões em manguezal não exige muitos investimentos, mas gera lucro rapidamente. Para Accioly, “geralmente há uma grande empresa de criação de camarão por traz dele (criador irregular), fornecendo ração, fornecendo o pós larva, que são os filhotes de camarão, e fornecendo alguma informação técnica. Então, ele entra sem custo nenhum, praticamente… depois ele entrega os camarões cultivados irregularmente para aquele empresário que paga a ele. O empresário pega o camarão que foi criado de forma ilegal mistura ao dele, criado de forma legal, e, a partir dali, o camarão tá todo com nota fiscal”.

Os danos causados pela carcinicultura aos manguezais são agravados pela morosidade dos processos ambientais, alguns tramitam há cerca de seis anos. Enquanto os processos estão tramitando os tanques não são removidos dos locais e os prejuízos ambientais são ampliados. Os tanques só são retirados após o término dos processos, que indicarão como o empreendedor sanará o problema causado.

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